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11/18/2009

Photoshop e seu limites éticos e estéticos

Posted by SPhotoshop | 11/18/2009 | Category: |

Rodrigo F. Pereira
Recentemente, uma velha discussão tem se propagado por alguns blogs nacionais sobre fotografia: a questão da manipulação da imagem através de programas como o Adobe Photoshop, os seus limites éticos e estéticos e a definição do que está ou não no campo da fotografia.



Primeiro foi o Olha, Vê, do Alexandre Belém, que trouxe a notícia do TOP com os casos de fotos de conteúdo jornalísticas com tratamento "pesado". Depois foi o Clicio Barroso que alimentou a polêmica ao publicar fotos de sua autoria sem tratamento. A discussão se espalhou por outros blogs, como o do Danilo e fóruns como o BRFoto.


O assunto é espinhoso porque mexe com muitas concepções arraigadas sobre o que é a fotografia e como ela deve ser feita. Defende-se, sobretudo, que a fotografia é uma emissora de verdade e que esse papel santificado não pode ser profanado. Valoriza-se, ainda, o fotógrafo que não precisa de Photoshop, como se o mesmo fosse uma muleta para a incapacidade do mesmo em fazer fotos boas do jeito que deve ser feito: só com a câmera.


Se dermos dois passos para trás e olharmos essa confusão de forma global, veremos que essas posições — e essas preocupações — são de duas vertentes da fotografia, o fotojornalismo e a fotografia publicitária, ambas que tem, de alguma forma, uma ligação com a verdade. E muita gente que não está nem aqui nem ali mas acha que a fotografia é só isso embarca nesses preceitos da boa conduta.


Tanto o jornalismo como a publicidade dependem (e defendem) o status da fotografia como descrição da realidade, como atestado da verdade. O primeiro porque precisa da credibilidade que a fotografia oferece para sustentar a sua atividade e a segunda porque pega emprestada essa credibilidade com finalidades comerciais, e é irônico que a fotografia publicitária é que mais emprega o tratamento de imagem. Mas o resultado final, por mais irreal que seja, precisa ser convincente, ou seja, mostrar que o resultado do produto é real. Quando isso não acontece, e o tratamento "dá errado", a ilusão é desfeita.


Poderíamos recorrer mais uma vez ao mestre Arlindo Machado e repetir a velha ladainha que a fotografia é apenas uma interpretação, que ela, mesmo quando sai direto da câmera tem as suas grandes distorções e que uma foto original não é mais real do que uma pesadamente alterada pelo Photoshop. Mas, em vez disso, podemos olhar para algumas fotografias em que esse tipo de questão nem mesmo se apresenta, como as que ilustram esse artigo, de autoria de Francismar Ramírez, Humerto Lemos e Janaína Miranda (e que podem ser conferidas no endereço: http://www.flickr.com/photos/fotoclubef508).



As três fotos acima (agradeço aos autores por autorizar a utilização) apresentam, sobretudo, conceitos fortes, que se sobressaem à construção compositiva e à questão estética — não significando, apesar disso, que estes fatores estejam prejudicados. Ao olhar para cada uma delas, podemos listar uma série de indagações que surgem, mas com certeza não será a primeira delas "foi usado tratamento?", ou "com que câmera foi feita?". Na verdade nos perguntaremos qual é a impressão que elas nos causam, qual a intenção do autor, qual o jogo de significado presente aqui. E, a partir daí, entendemos que há toda uma categoria da fotografia no qual as perguntas relevantes são outras.




O que podemos concluir, então, é que para a fotografia personalista, ou seja, aquela que tem alguma ligação com a produção artística por si só, alguns tipos de questão não cabem. Manipulação ou não, equipamento, cortes, aspectos técnicos, são questões infinitamente menores. A fotografia pessoal, autoral, artística, não tem limites e não tem compromissos que não os do próprio autor consigo mesmo. Sendo assim, tudo é permitido e qualquer limite externo é um tolhimento da criatividade. Vale, então, para os fotógrafos amadores que buscam a fotografia como forma de expressão, esse tipo de referência, e não a referência rígida da publicidade ou do jornalismo, pois as preocupações dessas vertentes só fazem sentido dentro delas mesmas e não no campo imensamente mais amplo da arte.







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