Clicio Barroso

Foi com curiosidade e desconfiança que recebi uma licença para testar o software de retoques Portrait Professional Studio 9, da Anthropics Technology, em sua versão mais parruda – a outra versão é chamada apenas de Portrait Professional. Curiosidade, pois desde que o Adobe Photoshop se tornou o padrão a ser batido por outros aplicativos de edição gráfica, muitos tentaram e poucos conseguiram um lugar ao sol. Lembro-me bem do Live Picture, que trabalhava com o conceito de "proxies" e tinha Liquify já em 1994. E também do XRes, poderoso mas com uma interface desastrosa. Sumiram, e o software da Adobe foi se firmando cada vez mais. Seria intrigante um desafiante britânico…

Desconfiança pelos mesmos motivos. Além dos já citados, outros programas de menor calibre tentam, mas não chegam perto do Photoshop, maduro e estável, que cada vez mais se distancia dos outros, seja pelo seu tamanho e quantidade de menus (aterradores a princípio), mas também por ser hoje o editor de pixels universal, com uma curva de aprendizado tão íngreme que não vale a pena aprender tudo de novo, reinventar a roda.

Mas a surpresa foi boa! O PPS não se propõe a substituir nada que já exista (a não ser alguns plugins de tratamento de peles bem discutíveis), e sim ser um auxiliar para trabalhos específicos de tratamento de peles que necessitem retoques. Pode rodar como um programa "standalone", como um editor externo do Lightroom 2 ou como um plugin do Photoshop. Aliás, é tão flexível que pode rodar como um plugin através de linha de comando, sem necessitar de suporte algum de outro aplicativo. Como a minha experiência com o também inglês iView Media Pro é excelente, aprendi a acreditar nos programadores britânicos! Vamos abri-lo e ver como se comporta.

A INTERFACE GRÁFICA

O programa tem uma interface bastante agradável, que pode ser clara (default na versão 9) ou escura (default na versão 8), mas que pode ser configurada no painel de preferências. Uma opção superbem-vinda é a possibilidade de usar o português do Brasil como padrão do aplicativo, uma mão na roda para os que não falam inglês. A página de abertura indica claramente que há um procedimento a ser feito na janela lateral, que é flutuante e pode ser movida à vontade. Apenas essas janelas, a principal e a lateral, são suficientes para controlar todo o programa. É tão fácil, que na primeira impressão "é básico demais". Tudo é feito passo a passo. Há no painel lateral um botão de "Próximo", com a barra de espaços servindo como tecla de atalho, que vai orientando os passos, com informações precisas e curtas. Importante: todas as opções clicáveis possuem "tooltips" (dicas da ferramenta) extremamente completas, basta colocar o mouse sobre um texto ou botão e "zás!", aparece a explicação do que vai acontecer ao ser clicado. Muito, muito tranquilo, tão intuitivo a ponto de quase não se precisar do excelente manual, em PDF – que também é em português, diga-se de passagem.

O APLICATIVO EM USO

O programa pede que se escolha uma ou mais fotos para serem editadas. Muitos formatos são aceitos e, no caso da versão testada, a Studio, arquivos Raw, DNG e em 16 bits são possíveis. Aberta a imagem, basta seguir os passos. Primeiro, há uma simples fase de marcação, na qual alguns pontos críticos do rosto devem ser identificados. Continuando o processo, na barra lateral o Portrait Professional vai mostrar uma infinidade de controles para que o retrato seja retocado. Muitas coisas boas acontecem por aqui: os pontos não precisam ser colocados com exatidão cirúrgica, pois funcionam muito bem por aproximação. Não se perde tempo com detalhes pequenos. Os algoritmos permitem que se faça uma máscara automática (oculta ou não) na pele, evitando olhos, boca, sobrancelhas e cabelos.

O melhor dessa automatização é que, mesmo que não se toque em nenhuma das ferramentas de ajuste (que são muitas), os resultados são surpreendentemente bons. Com a possibilidade de ver antes/depois lado a lado com um simples pressionar de botão, qualquer ajuste é imediatamente comparado com o original. Se, por outro lado, for necessário um ajuste fino, as possibilidades são imensas. A maior parte das ferramentas em forma de "sliders", locais ou globais, funciona como as suas similares do Adobe Lightroom, Adobe Camera Raw e do Adobe Photoshop. Até os nomes são parecidos ("Vibrance", por exemplo), o que reduz bastante o tempo de aprendizado. E, como eu já disse, as ferramentas são muitas.

Duas me chamam a atenção: os pincéis "Retocar" e "Remover" para refinar a máscara, que têm suporte a tablets Wacom e são sensíveis a pressão; e os controles de cabelo, que permitem acrescentar brilhos e mudar facilmente cores. Mas o mais sensacional vem agora: o Portrait Professional tem um filtro de correção e ajustes de volumes e formas do rosto semelhante ao "Liquify", que funciona baseado em um formato de rosto idealizado, perfeito. As modificações são sutis, quase não se percebe, a não ser quando se pressiona a barra rápida de antes/depois. Com o original e o retoque sobrepostos, a mudança agora se torna visível e quase sempre para melhor.

Dica: para rodar o programa mais rápido em máquinas mais antigas ou com pouca memória, selecione "Renderização Rápida" no menu visualizar.

USADO COMO PLUGIN

A versão profissional (Studio) permite o uso do aplicativo em forma de plugin para o Photoshop e Lightroom 2, PC e Mac. Testei no CS3, no CS4 e no Lightroom 2.5. No Photoshop o programa é instalado e aparece no menu de filtros; tanto no CS3 quanto no CS4 o procedimento é o mesmo, ou seja, a partir da imagem sendo visualizada no Photoshop invoca-se o plugin, que abre o PPS em uma forma mais simplificada, sem todos os menus. Retoca-se a foto e no final do processo a única opção disponível é "salvar e fechar", o que nos leva de volta ao Photoshop, com a foto já retocada. Muito conveniente!

No Lightroom o procedimento é diferente: define-se o PPS como um editor externo, e o formato do arquivo resultante em TIFF (8 ou 16 bits). O PPS abre, o retoque é feito, uma duplicata da imagem é salva e aparece diretamente no Lightroom, ao lado do original. Como teste, mandei um DNG em 16 bits para ser processado dessa forma e o resultado foi rápido e satisfatório.

AS DIFERENÇAS ENTRE AS VERSÕES

O programa tem duas versões: Portrait Professional e Portrait Professional Studio. Portrait Professional, a versão mais básica, traz tecnologia de tratamento de pele "ClearSkin"; suporte completo para multiprocessadores para uma maior velocidade; suporte para fotos em perfil e 3/4, além de frontais; e modificação estrutural do formato do rosto (Liquify). Além disso, limpa a pele, reduz as rugas e remove espinhas; branqueia olhos e dentes, muda a cor dos olhos e cabelos e ilumina áreas de sombras (Fill Light).

Já a versão mais completa, o Portrait Professional Studio 9, além dos itens anteriores, apresenta: modos standalone e plugin para Photoshop e Lightroom 2. Trabalha tanto independentemente quanto em forma de plugin para Photoshop, PC e Mac. Essa versão foi desenvolvida para satisfazer a demanda de entusiastas e fotógrafos profissionais, que pediram a compatibilidade com o Photoshop para que sua rotina de trabalho fosse melhorada; perfil de cores melhorado e maior suporte para arquivos Raw. O aplicativo tem suporte para arquivos de Camera Raw e DNG e permite um absoluto controle de calibração de cor. O suporte Raw foi implementado como plugin, de forma que novas câmeras e formatos lançados no mercado possam ser adicionadas sem ter que esperar por um novo lançamento do Portrait Professional Studio. Lê e edita arquivos TIFF com 16 bits por cor; suporte aos perfis de cores. Por fim, possui modo batch para acelerar a sua rotina de trabalho. O Studio também tem um modo de lote incorporado, o que possibilita aos fotógrafos um fluxo de trabalho mais eficiente e rápido.

CONCLUSÃO

O programa foi uma surpresa, com resultados inesperadamente bons mesmo em modo automático. Quando se refina o processo, as peles são suavizadas de modo realista e a textura que se pode acrescentar é essencial para que não se tenha "pele de plástico", tão comum nos plugins disponíveis no mercado. Fácil e rápido, é indicado para as categorias que processam muitas imagens, tais como fotógrafos de casamentos, catálogos e books. Mesmo um trabalho mais simples de editorial (moda/beleza) ou publicidade pode se beneficiar da rapidez do Portrait Professional. Qualquer job mais importante, porém, deve ser considerado com atenção, já que tudo o que ele faz pode ser feito no Photoshop com mais precisão e controle, por um operador experiente. É importante diferenciar os objetivos e o alcance limitado do aplicativo, que, em um fluxo realmente profissional, faz mais sentido se for usado como um plugin. Em sua versão mais simples é uma excelente opção para amadores e pequenos negócios de retratos.

REQUERIMENTOS DO SISTEMA

Windows Vista, XP ou 2000, ou Intel Mac OS X (10.4 ou posterior).

CUPOM DE DESCONTO

O cupom é PTPH01 e pode ser usado para se obter 20% de desconto. Com 20% de desconto, o programa custa menos de R$ 100.

Prós e Contras

GOSTEI

•Facilidade de uso

•Suporte ao Lightroom 2

e Photoshop

•Suporte a Raw e DNG

•Suporte a 16 bits

•Gerenciamento de

cores com perfis ICC

•Manual e help

em português

•Preço (com desconto)

DETESTEI

•Facilidade de uso: a pasteurização do tratamento pode deixar todas as fotos "com a mesma cara".

•Não ter suporte a arquivos PSD. Com um arquivo PSD aberto no Photoshop, chamei o plugin e a foto abriu normalmente no PPS. Fiz todo o tratamento, salvei o arquivo e fechei o PPS, e nada aconteceu. O arquivo não foi salvo, não apareceu retocado no Photoshop, e nenhum aviso de alerta foi mostrado. Perdi meu tempo. Tinha que ter sido um TIFF. Deveria ter lido "todo" o manual antes!

Fonte